Eu estava num lugar tão quentinho e acolhedor e, de repente, sou tirado dele, para nunca mais voltar.
Se ainda estivessem me levando para um lugar melhor...
Mas não.
É uma sala fria, cheia de luzes. E ainda por cima vem aquele homem de branco bater no meu bumbum.
Qual é?
Não me lembro de ter concordado com isso.
Ninguém me avisou que um dia eu teria que sair daquela barriga apertadinha e gostosa.
Agora, todavia, já estou fora.
Chorar.
É só isso que me resta, pelo menos, espero que percebam a minha revolta e me mandem de volta.
Não.
Minha situação só piora. Eles inventam de me tirar de perto da minha mamãe.
Que história é essa?
Eles podem fazer isso, por acaso?
Pelo que eu saiba, não. Afinal, estou conectado nela, ou melhor, estava, porque até a nossa ligação eles resolveram cortar.
O que falta acontecer?
Pior do que isso não pode ficar.
Choro ao nascer porque chego em um mundo habitado por loucos, e acho que até a minha própria sanidade ficou perdida em algum lugar dentro daquele útero.
Pronto. Estou condenado à vida.
Aliás, ela é um fardo ou uma dádiva?
Sei lá, só sei que agora choro. Choro porque não sei o que virá a seguir, então cultivo apenas a esperança de que ouçam os meus protestos e considerem a minha vontade, não só a deles.
Só quero que me escutem, que me deem um mínimo de atenção. Mas eles não fazem isso, jamais escutam.
Então, choro loucamente, até que me ouçam.
(Alan Soares)