sexta-feira, dezembro 21, 2012

Acorda, amor - minha interpretação




ACORDA AMOR
UMA BREVE INTERPRETAÇÃO DA MÚSICA DE CHICO BUARQUE

E
m ACORDA AMOR, Chico Buarque demonstra como era a vida numa época em que aqueles que prometem nos proteger são aqueles a quem devemos temer.

"Acorda amor" - 1. Chico pode estar falando como alguém que, durante a noite, acorda ouvindo barulhos estranhos e suspeita que sua casa possa estar sendo invadida, e então se vira e chama seu marido/sua esposa;  2. Também faz referência ao povo, dizendo "Acorda!" para que as pessoas percebessem o que estava acontecendo bem diante de seus narizes, uma vez que a maioria das pessoas, no início, não tinha noção do que faziam os ditadores.
"Eu tive um pesadelo agora" - Tal absurdo (líderes censurando informações, pessoas perdendo por completo sua liberdade, torturas diárias por parte do governo, etc.) parece ser coisa tão ruim que só poderia acontecer em um pesadelo.
"Sonhei que tinha gente lá fora / Batendo no portão, que aflição" - Esses são os militares entrando nas casas das pessoas, sem pedir licença, acordando-os, raptando-os, e torturados sob o mínimo sinal de suspeita em relação a algo desaprovado pelo governo. É o clássico "bater primeiro e perguntar depois".
"Era a dura [...]" - Chico usa "DURA" na verdade referindo-se à "ditaDURA".
"[...] numa muito escura viatura / Minha nossa santa criatura" - Aquilo que essas pessoas eram levadas a crer (que uma viatura é sinal de segurança, pois os policiais estão aqui para nos proteger [em teoria, pelo menos]) na verdade era o contrário, pois os invasores eram justamente esses da viatura.
"Chame, chame, chame lá / Chame, chame o ladrão, chame o ladrão!" - Quando alguém invade sua casa, o que é comum ser feito? Chamar a polícia, não é? Mas e quando é a própria polícia que está invadindo, o que se pode fazer? Ora, a única alternativa é chamar o ladrão. Chame o ladrão!

"Acorda amor, / Não é mais pesadelo nada" - Aquilo que perecia ser apenas um pesadelo, era realidade, por mais absurdo que fosse. Acorda povo, pois essa é a realidade!
"Tem gente já no vão da escada / Fazendo confusão, que aflição" - 1. Alguns já estavam acordando daquilo que não era pesadelo e protestando;  2. Os policiais já estavam dominando tudo, chegando perto de você e prontos para te pegar, e instaurar a confusão, o caos.
"São os homens" - "homens" significando policiais.
            "E eu aqui parado de pijama" - Apesar de tudo o que estava acontecendo no Brasil, muitos ainda não faziam nada, apenas ficavam ali parados, de pijama.
"Eu não gosto de passar vexame" - Eis um dos motivos para que alguém, que já havia "acordado" e ainda assim não fazia nada: o vexame, que pode ser tanto:
1. Por parte da sociedade, que desacreditava nos revolucionários e ainda debochavam; 2. Por parte dos próprios militares, que humilhavam as pessoas e, como o maior dos vexames, as torturavam e matavam.
"Chame, chame, chame / Chame o ladrão, chame o ladrão" - Agora se tornara mais seguro ter um ladrão dentro de casa do que um policial.
"Se eu demorar uns meses, Convém, às vezes, você sofrer" - Em alguns meses ainda havia a possibilidade da pessoa, mesmo capturada pelos ditadores, estar viva, ainda que escondida.
"Mas depois de um ano eu não vindo" - Depois de um tempo, era quase certo que a pessoa havia sido morta.
"Ponha a roupa de domingo" - A roupa de domingo é a roupa de ir à missa. No caso, a missa de luto, de um ano da morte de um ente querido.
"E pode me esquecer" - A história daqueles que eram capturados tornava-se completamente esquecida depois de um tempo, até por causa da censura de dados, que eram mantidos apenas em poder dos próprios ditadores.

"Acorda amor / Que o bicho é brabo e não sossega" – Povo, acorde, pois os ditadores fazem crueldades, e não vão parar, pelo contrário, continuarão até que as pessoas façam algo a respeito.
"Se você corre o bicho pega" - Num contexto onde o "bicho" é o próprio governo, ou seja, está no controle de tudo, não há para onde fugir, pois eles saberão onde você está.
"Se fica não sei não / Atenção" - Embora fugir fosse arriscado, ficar era ainda pior, com certeza.
"Não demora / Dia desses chega a sua hora / Não discuta à toa não reclame" - 1. Ele pode estar se dirigindo às pessoas que, mais cedo ou mais tarde, também seriam capturadas, e não adiantava de nada discutir, pois os militares faziam o que os convinha, sem se importar com o torturado;  2. Ele também pode estar se dirigindo ao ditador, dizendo "agora você está no poder, mas em breve será derrubado, e aí não adianta reclamar, pois o povo prevalecerá", mensagem que ele também passa em sua outra música, Apesar de você.
"Clame, chame lá, chame, chame / Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão" - Num país onde as leis são determinadas por ditadores, aquele que oficialmente é o criminoso, pode, na verdade, ser o revolucionário, que era perseguido pela polícia, mas isso não significava que ele era o ruim da história. Chame o ladrão, pois talvez ele seja o único que está fazendo o bem, e na época não havia como fazer o bem sem desobedecer às leis ditatoriais.
"Não esqueça a escova, o sabonete e o violão" - itens básicos (escova e sabonete) acompanhados do violão (significando a música) que era a maneira que tinham de lutar contra a ditadura; músicas que continham mensagens subliminares, como a própria ACORDA AMOR.



 
Aonde é que foi parar o país de Independência?
Onde está a ordem e progresso?
Em meio a toda essa guerra já não sei para onde ir...
Simplesmente me perdi, em busca de paz e igualdade.
Queria poder ter voz para dizer, mas a violência me tornou incapaz de falar.
Aqui não há direitos, só regime militar...
             As pessoas são mudas e não podem contestar,
             Sobre as palavras que aqui estou tentando expressar...
            Violência, guerra, desigualdade, e regime militar...”¹

1. RODRIGUEZ, Priscila 
Texto de Alan Soares

4 comentários:

Anônimo disse...

Obrigadaaaaa!!! Me ajudou muito :D

Anônimo disse...

fodac

Anônimo disse...

concordo,fodac

Anônimo disse...

Ótima análise.

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