Wavin' Flag - K'naan
Na
música, K’naan introduz um narrador no mínimo incomum, pois este não é uma
pessoa, um animal ou um objeto, mas sim um continente inteiro: a África,
contando sua própria história e suas esperanças para o futuro.
“When I get older I will be
stronger” (Quando eu ficar mais velho eu
serei mais forte) – A África, apesar de ser tão grande e tão antiga, ainda
vê-se em fase de amadurecimento, tal qual um jovem, uma vez que seus países só
conquistaram independência recentemente, e a partir daí o continente começou a
andar com as próprias pernas, ainda que com enormes dificuldades, mas a África
ainda anseia pelo dia em que tudo isso passará e ela será forte e poderosa.
“They'll call me freedom, just like
a wavin' flag” (Eles me chamarão de
Liberdade, assim como uma bandeira ao vento) – Apesar da citada independência
oficial, os países africanos continuam presos ao seu passado e presente de
exploração, fome, doença, descaso etc. Mas a esperança é de que algum dia esses
países sejam livres, assim como serão suas bandeiras levantadas com orgulho ao
vento.
“Born to a throne, stronger than
Rome” (Nascido em um trono, mais forte
do que Roma) – A maioria das evidências fósseis aponta para a África como
sendo o lugar onde o ser humano surgiu; o trono onde todos nós nascemos. Não
importa se seus pais vieram da Espanha, se seus avós vieram da Itália ou se
seus bisavós vieram da Índia, sua decendência é africana. Somos todos
afro-descendentes. E não há reino maior do que esse, do que nossa casa, nem
mesmo o grande Império Romano (ou qualquer outro império) pode igualar-se à mãe
África, berço do nosso mundo.
“A violent prone, poor people zone”
(Uma grande violência, zona de pessoas
pobres) – Eis a realidade da África, como todos sabemos: a maior parte de
sua população (principalmente no sul) é extremamente pobre. Tal pobreza faz com
que as pessoas passem fome, não tenham saneamento básico, infraestrutura, saúde
etc. Nesse cenário, é evidente que o índice de violência é muito elevado.
“But it's my home, all I have known
/ Where I got grown, streets we would roam” (Mas é o meu lar, tudo o que já conheci / Onde eu cresci, ruas por onde
passeávamos) – Apesar de todos esses enormes problemas, a África ainda
abriga milhões de pessoas, pessoas que a tem como seu lar, como o único lugar
no mundo que as acolheu, como a única terra onde eles são bem-vindos. O
restente do mundo rejeita e simplesmente “esquece” do continente africano e de
todos os seus habitantes. Sem grandes esperanças, é provável que um africano
nasça, cresça e morra perante a mesma cena de miséria e esquecimento.
“Out of the darkness, I came the
farthest / Among the hardest survival” (Fora
da escuridão, eu vim mais longe / Entre os mais árduos sobreviventes) –
K’naan conseguiu livrar-se da pobreza; saiu da escuridão. Ele foi mais longe do
que a grande maioria dos africanos. Contudo, esse “longe” não é tão distante se
compararmos aos astros americanos que já têm sua fama programada por agentes de
marketing. K’naan não teve facilidades; sua realidade era de profunda
escuridão, da qual poucos conseguem sair e ver a luz.
“Learn from these streets, it can be
bleak / Accept no defeat, surrender, retreat” (Aprender nas ruas pode ser desolador / Não aceitar nenhuma derrota,
renúncia, recuo) – Assim que o povo africano sobrevive: aprendendo com as
dificuldades que o mundo despeja sobre eles. Assim fica infinitamente mais
difícil simplemente não desistir, não abandonar qualquer esperança de vitória.
Mas mesmo com tudo contra eles, ainda há a chance de vencer.
“So we struggling, fighting to eat”
(Assim nós batalhamos, lutando para comer)
– Já não bastasse a falta de apoio financeiro, político e moral que assola a
África, ainda há um problema maior: a fome. Se uma criança consegue jantar, não
sabe se conseguirá almoçar no dia seguinte, assim como seus pais nem seus avós
não sabem. É viver com a incerteza de estar vivo no dia seguinte.
“And we
wondering when we'll be free / So we patiently wait for that fateful day / It's
not far away, but for now we say…” (E nós nos
perguntamos quando seremos livres / Então nós pacientemente esperamos por esse
dia fatídico / Não está muito longe, mas por enquanto nós dizemos...) –
Essa é a esperança que move o povo africano: o dia em um futuro próximo ou
distante em que eles serão finalmente livres, depois de tanta exploração,
escravidão, indiferença e descaso. Um dia, talvez em breve ou talvez em muito
tempo, mas um dia a África será livre.
“When I get older I will be stronger
/ They'll call me freedom just like a wavin' flag” (Quando eu ficar mais velho eu serei mais forte / Eles me chamarão de
Liberdade, assim como uma bandeira ao vento) – E tal como a própria África,
o povo africano fala em uníssono, mesmo que metaforicamente, que serão mais
fortes, que serão livres, que hastearão as bandeiras de seus países e verão com
orgulho elas balançando ao vento, em tempos de paz e calmaria.
“So many wars, settling scores” (Tantas guerras, estabelecendo pontos) –
Outra ferida na história africana: as guerras em seus territórios. Não apenas
guerras internas, de ditadores, rebeldes etc., mas também de outros países. Um
lugar que já foi dominado por ingleses, franceses, portugueses, alemães, e
muitos outros países não-africanos. A África já presenciou em seu interior
inúmeros tiros, bombas e sangue derramado. Impérios somando locais estratégicos
como se não houvesse qualquer população naquele lugar.
“Bringing us promises, leaving us
poor” (Trazendo-nos promessas, nos
deixando pobres) – Assim fizeram os europeus: invadiram, encontraram minas
e mais minas de minérios, prometeram que a África prosperaria e usurparam tudo.
Um território tão rico, e um povo tão pobre. Essa é a situação na qual os
colonizadores colocaram o continente.
“I heard them say 'love is the way'
/ 'Love is the answer,' that's what they say” (Eu ouvi eles dizerem: “o amor é o caminho” / “O amor é a resposta”, é o
que eles dizem) – A ideia de que o amor era o caminho para a paz e a
felicidade entrava em contradição perante as ações dos homens que garantiram
prosperidade aos africanos e só causaram guerras, pobreza, e ódio.
“But look how they treat us, make us
believers / We fight their battles, then they deceive us” (Mas veja como eles nos tratam, nos fazem acreditar / Nós lutamos em
suas batalhas, e então eles nos decepcionam) – Assim faz o mundo: clama por
amor à África, garante um futuro livre, mas veja como o mundo trata os africanos.
Eles estão fadados, pelo menos por agora, a viver num continete esquecido,
abandonado pelo restante do planeta.
“Try to control us, they couldn't
hold us / 'Cause we just move forward like Buffalo Soldiers” (Tentam nos controlar, mas não podem nos
segurar / Pois nós seguimos em frente, como Buffalo Soldiers) – K’naan faz
uma referência à música de Bob Marley, Buffalo
Soldier, que fala sobre um africano roubado de sua terra e levado à
América, lutando para sobreviver. E assim segue o povo do continente esquecido,
lutando pela vida, e vivendo em uma grande luta. Ainda assim, não há como
controlar um espírito livre, um espírito que clama pela liberdade de seu corpo,
de sua vida.
"Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram
feitos para viverem como irmãos.”¹
1. MANDELA, Nelson
Texto de Alan Soares
Um comentário:
FILHO!!! São grandiosas tuas palavras, teu alento em viver esse momento como refletido na dor do ser humano que não dispõe o mínimo para orgulhar-se, porém labuta arduamente para isso mudar e poder sim um dia mostrar aos seus, o quanto vale à pena viver de forma digna, entre irmãos. Que tudo tenha valido à pena, pois o sangue desta luta já se faz rio. Parabéns 100pre.
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