quinta-feira, dezembro 20, 2012

Wavin' Flag - minha interpretação
























































































  
Wavin' Flag - K'naan

Na música, K’naan introduz um narrador no mínimo incomum, pois este não é uma pessoa, um animal ou um objeto, mas sim um continente inteiro: a África, contando sua própria história e suas esperanças para o futuro.

            “When I get older I will be stronger” (Quando eu ficar mais velho eu serei mais forte) – A África, apesar de ser tão grande e tão antiga, ainda vê-se em fase de amadurecimento, tal qual um jovem, uma vez que seus países só conquistaram independência recentemente, e a partir daí o continente começou a andar com as próprias pernas, ainda que com enormes dificuldades, mas a África ainda anseia pelo dia em que tudo isso passará e ela será forte e poderosa.

            “They'll call me freedom, just like a wavin' flag” (Eles me chamarão de Liberdade, assim como uma bandeira ao vento) – Apesar da citada independência oficial, os países africanos continuam presos ao seu passado e presente de exploração, fome, doença, descaso etc. Mas a esperança é de que algum dia esses países sejam livres, assim como serão suas bandeiras levantadas com orgulho ao vento.

            “Born to a throne, stronger than Rome” (Nascido em um trono, mais forte do que Roma) – A maioria das evidências fósseis aponta para a África como sendo o lugar onde o ser humano surgiu; o trono onde todos nós nascemos. Não importa se seus pais vieram da Espanha, se seus avós vieram da Itália ou se seus bisavós vieram da Índia, sua decendência é africana. Somos todos afro-descendentes. E não há reino maior do que esse, do que nossa casa, nem mesmo o grande Império Romano (ou qualquer outro império) pode igualar-se à mãe África, berço do nosso mundo.

            “A violent prone, poor people zone” (Uma grande violência, zona de pessoas pobres) – Eis a realidade da África, como todos sabemos: a maior parte de sua população (principalmente no sul) é extremamente pobre. Tal pobreza faz com que as pessoas passem fome, não tenham saneamento básico, infraestrutura, saúde etc. Nesse cenário, é evidente que o índice de violência é muito elevado.

            “But it's my home, all I have known / Where I got grown, streets we would roam” (Mas é o meu lar, tudo o que já conheci / Onde eu cresci, ruas por onde passeávamos) – Apesar de todos esses enormes problemas, a África ainda abriga milhões de pessoas, pessoas que a tem como seu lar, como o único lugar no mundo que as acolheu, como a única terra onde eles são bem-vindos. O restente do mundo rejeita e simplesmente “esquece” do continente africano e de todos os seus habitantes. Sem grandes esperanças, é provável que um africano nasça, cresça e morra perante a mesma cena de miséria e esquecimento.

            “Out of the darkness, I came the farthest / Among the hardest survival” (Fora da escuridão, eu vim mais longe / Entre os mais árduos sobreviventes) – K’naan conseguiu livrar-se da pobreza; saiu da escuridão. Ele foi mais longe do que a grande maioria dos africanos. Contudo, esse “longe” não é tão distante se compararmos aos astros americanos que já têm sua fama programada por agentes de marketing. K’naan não teve facilidades; sua realidade era de profunda escuridão, da qual poucos conseguem sair e ver a luz.

            “Learn from these streets, it can be bleak / Accept no defeat, surrender, retreat” (Aprender nas ruas pode ser desolador / Não aceitar nenhuma derrota, renúncia, recuo) – Assim que o povo africano sobrevive: aprendendo com as dificuldades que o mundo despeja sobre eles. Assim fica infinitamente mais difícil simplemente não desistir, não abandonar qualquer esperança de vitória. Mas mesmo com tudo contra eles, ainda há a chance de vencer.

            “So we struggling, fighting to eat” (Assim nós batalhamos, lutando para comer) – Já não bastasse a falta de apoio financeiro, político e moral que assola a África, ainda há um problema maior: a fome. Se uma criança consegue jantar, não sabe se conseguirá almoçar no dia seguinte, assim como seus pais nem seus avós não sabem. É viver com a incerteza de estar vivo no dia seguinte.

            “And we wondering when we'll be free / So we patiently wait for that fateful day / It's not far away, but for now we say…” (E nós nos perguntamos quando seremos livres / Então nós pacientemente esperamos por esse dia fatídico / Não está muito longe, mas por enquanto nós dizemos...) – Essa é a esperança que move o povo africano: o dia em um futuro próximo ou distante em que eles serão finalmente livres, depois de tanta exploração, escravidão, indiferença e descaso. Um dia, talvez em breve ou talvez em muito tempo, mas um dia a África será livre.

            “When I get older I will be stronger / They'll call me freedom just like a wavin' flag” (Quando eu ficar mais velho eu serei mais forte / Eles me chamarão de Liberdade, assim como uma bandeira ao vento) – E tal como a própria África, o povo africano fala em uníssono, mesmo que metaforicamente, que serão mais fortes, que serão livres, que hastearão as bandeiras de seus países e verão com orgulho elas balançando ao vento, em tempos de paz e calmaria.

            “So many wars, settling scores” (Tantas guerras, estabelecendo pontos) – Outra ferida na história africana: as guerras em seus territórios. Não apenas guerras internas, de ditadores, rebeldes etc., mas também de outros países. Um lugar que já foi dominado por ingleses, franceses, portugueses, alemães, e muitos outros países não-africanos. A África já presenciou em seu interior inúmeros tiros, bombas e sangue derramado. Impérios somando locais estratégicos como se não houvesse qualquer população naquele lugar.

            “Bringing us promises, leaving us poor” (Trazendo-nos promessas, nos deixando pobres) – Assim fizeram os europeus: invadiram, encontraram minas e mais minas de minérios, prometeram que a África prosperaria e usurparam tudo. Um território tão rico, e um povo tão pobre. Essa é a situação na qual os colonizadores colocaram o continente.

            “I heard them say 'love is the way' / 'Love is the answer,' that's what they say” (Eu ouvi eles dizerem: “o amor é o caminho” / “O amor é a resposta”, é o que eles dizem) – A ideia de que o amor era o caminho para a paz e a felicidade entrava em contradição perante as ações dos homens que garantiram prosperidade aos africanos e só causaram guerras, pobreza, e ódio.

            “But look how they treat us, make us believers / We fight their battles, then they deceive us” (Mas veja como eles nos tratam, nos fazem acreditar / Nós lutamos em suas batalhas, e então eles nos decepcionam) – Assim faz o mundo: clama por amor à África, garante um futuro livre, mas veja como o mundo trata os africanos. Eles estão fadados, pelo menos por agora, a viver num continete esquecido, abandonado pelo restante do planeta.

            “Try to control us, they couldn't hold us / 'Cause we just move forward like Buffalo Soldiers” (Tentam nos controlar, mas não podem nos segurar / Pois nós seguimos em frente, como Buffalo Soldiers) – K’naan faz uma referência à música de Bob Marley, Buffalo Soldier, que fala sobre um africano roubado de sua terra e levado à América, lutando para sobreviver. E assim segue o povo do continente esquecido, lutando pela vida, e vivendo em uma grande luta. Ainda assim, não há como controlar um espírito livre, um espírito que clama pela liberdade de seu corpo, de sua vida.

"Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos.”¹

1. MANDELA, Nelson

Texto de Alan Soares


Um comentário:

Anônimo disse...

FILHO!!! São grandiosas tuas palavras, teu alento em viver esse momento como refletido na dor do ser humano que não dispõe o mínimo para orgulhar-se, porém labuta arduamente para isso mudar e poder sim um dia mostrar aos seus, o quanto vale à pena viver de forma digna, entre irmãos. Que tudo tenha valido à pena, pois o sangue desta luta já se faz rio. Parabéns 100pre.

Postar um comentário